quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Brasileiro do Google diz que os mais pobres sao os que mais precisam da WEB

Governo tem o dever de levar internet a todos, diz executivo brasileiro do Google

Governos devem gastar dinheiro para levar internet a todos e para ensinar a população a usar o computadores como medidas para diminuir a desigualdade social. É o que afirma Nelson Mattos, 54, vice-presidente de engenharia do Google na Europa e em países emergentes.

A empresa anunciou recentemente iniciativas para levar internet a lugares isolados do mundo --no Brasil, testes com uma tecnologia para fornecer conexão via balões será testada na Amazônia no ano que vem.
Divulgação
Nelson Mattos, 54, vice-presidente de engenharia para a Europa e América Latina do Google
Nelson Mattos, 54, vice-presidente de engenharia para a Europa e América Latina do Google

"O Google pode contribuir para a inclusão, mas não é seu papel", disse Mattos, em entrevista à Folha, durante sua passagem pelo Brasil na semana passada. Leia os principais trechos abaixo.
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O que o Google ganha ao conectar mais pessoas?
A curto prazo, não há benefício direto para o Google. A longo prazo, com mais pessoas e mais empresas na internet, há mais buscas, exibimos propagandas, e o Google tem condições de faturar.
Sabemos que, se o ecossistema da internet crescer, nos beneficiamos indiretamente. Não só nós, mas também todos os que se beneficiam do crescimento da internet.

E a sociedade?

O uso da internet tem benefícios em quatro grandes dimensões: na área econômica, com empregos e contribuindo para o crescimento do PIB; na cultural, com as maneiras mais rápidas de se comunicar; na saúde, com resposta rápida a catástrofes e para enviar ajuda remota a áreas pobres; e a de educação, com acesso quase ilimitado a qualquer informação e conteúdo educacional.
Essa última é a mais importante para mim, por causa da minha experiência de vida.

Qual?

Venho de uma família de poucos recursos. Estudei no colégio militar, uma escola excelente, e tive a oportunidade de ir para os EUA fazer intercâmbio. Lá, morei numa cidade de 5.000 habitantes, que tinha uma biblioteca com todos os livros que eu poderia imaginar que gostaria de ler.
Imagina a biblioteca de uma cidade no Brasil com 5.000 habitantes. A diferença era monstruosa. No mestrado, senti a mesma coisa: só conseguia um estudo novo se conhecesse alguém que fora à França, aos EUA e que pudesse te dar uma cópia xerox.
Àquela época, nem e-mail existia. Estava sempre um ano ou dois atrasado em relação a meus colegas. Hoje em dia, esse problema não existe --com internet, todos acessam as mesmas informações. Você só depende de você.

O desafio é o problema, portanto.

Sim. Há pessoas no Brasil que não têm acesso, estudantes também --uma situação que é como se estivéssemos trinta anos atrás. Como é que eles vão competir com seus colegas no exterior? É por isso que digo que a internet é mais importante para os países em desenvolvimento do que para os países desenvolvidos.
Na América Latina, muitas vezes há acesso, mas é caro, a rede é ruim, congestionada. No Brasil, o setor de telefonia é um horror. Se você tenta fazer uma ligação no horário de pico, o número de vezes que ela cai é um problema. E é a mesma rede pela qual passam os dados.

Como solucionar isso?

Estamos tentando mostrar na Uganda [com o Projeto Link, para instalar fibra ótica na capital do país africano] que a melhor maneira é o governo investir em infraestrutura compartilhada, que permita que as operadoras baixem seus custos usando o mesmo cabo de fibra ótica, por exemplo.
[A infraestrutura] é o primeiro grande desafio.

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