Tecnologia pode melhorar conexão da internet com aparelhos
Especialista explica o que é o HyperCat, novo padrão de compartilhamento da Internet das Coisas
Apesar da ascensão da chamada Internet das Coisas, ainda não dá para dizer que exista um padrão de comunicação que conecte todos os aparelhos.
Há alguns implantados, é claro, e o DLNA é talvez o que chega mais perto de integrar uma boa variedade de dispositivos.
Mas para tentar unificar tudo de vez, um novo consórcio de 40 empresas – que junta nomes do porte da ARM e da IBM – tenta emplacar um novo padrão, apelidado de HyperCat e apoiado por universidades e pelo governo do Reino Unido.
De forma resumida, a nova especificação pretende fazer com que diferentes aparelhos reconheçam uns aos outros. Com isso, eles podem procurar por metadados uns nos outros “usando padrões como HTTPS, Restful APIs e JSON como formatos de dados”, como descreveu o jornal inglês The Register.
O projeto é visto pela empresa Flexeye (que lidera o consórcio de companhias) como o possível responsável por “liberar todo o potencial da Internet das Coisas ao criar uma world wide web [WWW] para máquinas”, segundo declaração dada à publicação.
Parece exagero, mas a afirmação não deixa de ter sentido.
Conforme explicou o TechRadar (TR), essa padronização proposta facilitaria a interoperabilidade, “o que significa que semáforos poderiam, em teoria, se comunicar automaticamente com sensores de estacionamento em vez de ficar limitados a outros semáforos”.
É algo que poderia tornar o trânsito melhor e apenas uma das possibilidades. “Muitos sistemas estão começando a disponibilizar dados”, disse ao TR Justin Anderson, CEO da Flexeye. “O desafio é fazer com qualquer um que queira acessar e ler esses dados consiga entendê-los.”
Enfim, para falar um pouco mais sobre o HyperCat, conversamos com William Lumpkins, membro sênior do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) e presidente da IEEE Consumer Electronics Society Standards.
O especialista deu alguns detalhes sobre a especificação e explicou as dificuldades e a importância da implementação de um padrão do tipo. Confira a entrevista a seguir.
O que é o HyperCat e qual o maior desafio encontrado para criá-lo? E o que ele traz de diferente para padrões já existentes?
O HyperCat é um padrão baseado em JSON e URI similar ao UPnP ou DLNA.
Ele ainda está engatinhando, e o grande desafio é fazer com que os maiores fabricantes o utilizem no software de suas plataformas, como TVs, dispositivos móveis, sistemas de segurança doméstico e iluminação, por exemplo.
[Quanto a vantagens], eu diria que há menos sobrecarga no HyperCat, permitindo assim que ele seja menor do que outros padrões.
A colaboração responsável pelo HyperCat envolve em maioria companhias de tecnologia do Reino Unido. Há planos de englobar marcas de outros países?
O IEEE e a Consumer Electronics Association (CEA) têm iniciativas que concorrem no campo de padrões de Internet das Coisas (IdC).
Apesar disso, é bem possível que, com o desenvolvimento do HyperCat, ele sirva como referência para padrões estabelecidos tanto pelo IEEE quanto pelo CEA e seus associados.
Dispositivos mais antigos serão compatíveis de alguma forma com a nova especificação?
Sim e não. Ou melhor, talvez. Lembre-se de que o padrão ainda está engatinhando, então isso não foi nivelado totalmente.
Mas como o padrão apenas referencia URIs, algo que ocorre em vários outros padrões de Internet das Coisas, é bem possível que dispositivos mais antigos que seguem especificações similares funcionem – ou só exijam modificações menores para isso.
Ainda no tema, como empresas como Apple, Microsoft e tantas outras que já investiram nos próprios padrões podem ser convencidas a adotar o HyperCat?
No caso específico da Apple, que não gosta muito de padrões aceitos pelo resto do mundo, não a vejo seguindo o HyperCat – a menos que mais de 75% de todos os produtos o esteja utilizando e empresa sinta que precisa dar suporte para se manter competitiva.
A Microsoft, por sua vez, já está perto disso, visto que o novo padrão é muito similar ao UPnP e seria fácil modificar a implementação.
A verdadeira questão aqui é se o HyperCat vai conseguir angariar desenvolvedores de produtos suficientes para despertar o interesse da Microsoft.
Isso porque, na maioria das vezes, padrões como este novo e o DLNA primeiro se certificam de que foram aceitos por empresas grandes antes de se lançarem de vez no mercado.
Mas há um desafio que qualquer padrão enfrenta para isso: a maior parte dos competidores no mercado está tentando se assegurar de que a “propriedade intelectual” de seus próprios produtos está representada de alguma forma, caso o padrão decole.
E finalmente, quais os benefícios que essa padronização pode trazer?
Eis um tópico enorme, sobre o qual escrevi um artigo para a IEEE Consumer Electronics Magazine, chamado “Padrões: Qual o lugar deles no mercado de consumo?” [disponível aqui, em inglês].
Basicamente, a padronização torna menos difícil para o consumidor integrar todos os seus outros dispositivos. Uma das máximas no mercado é a de que o produto que custa mais tende a ser o mais culpado por não funcionar integrado a outros produtos.
Por exemplo: uma pessoa compra uma televisão de quase 5.000 reais e tenta, sem sucesso, conectá-la ao termostato de 230 reais. Ele provavelmente entrará em contato com a fabricante da TV para reclamar que ele não está funcionando direito.
A empresa, então, tentará explicar que o problema é o termostato, mas o cliente vai continuar exigindo que a TV funcione.
Se ambas as empresas seguissem o mesmo padrão de comunicação da Internet das Coisas em seus produtos, com certo nível de interoperabilidade, então esses tipos de problemas seriam minimizados – e os pedidos de reparos para ambos os lados seriam virtualmente eliminados.
Ou seja, as duas marcas manteriam sua reputação (o que ajuda nas vendas) e conseguiriam mais lucro. O cliente ainda ficaria satisfeito e o ecossistema cresceria.