Interatividade: surge uma nova televisão
André Barbosa Filho-PhD
Depois de quase uma década de implantação da TV digital
terrestre, o Brasil vive a última oportunidade de fazer valer as
diretrizes do Sistema Brasileiro de Televisão Digital
Terrestre (SBTVD-Tb) estabelecidos pelo Decreto 5.820/2006, como a
interatividade, multiprogramação, mobilidade, portabilidade e
interoperabilidade.
No dia 29 de abril próximo, o Grupo de Apoio a
Migração Digital (GIRE) estará se reunindo para decidir as principais ações referentes ao investimento dos
3.6 bilhões de reais - contrapartida das empresas de telefonia celular vencedoras do leilão da faixa de 700Mhz.
Estes recursos já foram entregues à Associação sem Fins Lucrativos (EAD), entidade encarregada da compra e distribuição de caixas conversoras digitais para as famílias dos beneficiários do programa Bolsa Família - 14 milhões
-, em todo o
Brasil.
A EAD é responsável pelo ressarcimento das emissoras de TV que operam ou já tenham realizado investimentos para transmissão digital nos canais 52 a 58 e, igualmente, para o pagamento das campanhas de esclarecimento
sobre o cronograma da migração e
suas particularidades, em todos os municípios brasileiros.
A campanha inclui, também, recursos para a pesquisa que certificará o número mínimo obrigatório de 93% dos domicílios com recepção do sinal aberto e gratuito da TV Digital, antes do desligamento do sinal analógico. O custo desta campanha,
ainda desconhecido, poderá ser um impeditivo financeiro para o avanço de conversores mais robustos e com mais recursos tecnológicos.
Há quem
pregue mais dinheiro para campanha e caixinhas conversoras simples, destas que só servem para sintonizar a imagem e som da TV
Digital, com acessibilidade restrita e sem os benefícios mais nobres como a
interatividade com Ginga, acessibilidade e
multiprogramação.
A caixa conversora de sinais digital para TV Digital
aberta é um salto de eficiência no acesso das populações de
baixa do Brasil ao mundo digital através, por exemplo, da oferta de aplicativos
com programas públicos, normalmente só encontrados na internet.
A “caixinha” não é só para TV, é uma “caixinha” integradora,
convergente, para que esse público enorme, que ainda não tem a possibilidade de receber fibra óptica ou internet fixa, possa usar o canal de retorno 3G ou 4G para acesso à web.
Ao mesmo tempo, apresenta um novo modelo de negócio, uma nova fonte de renda para a radiodifusão.
Basta
estabelecer modelos de negócios compatíveis com a renda dessas famílias. Para a TV publica,
uma
oportunidade de exercer o protagonismo, transmitindo
conteúdos e dados pela TV,
aumentando e qualificando sua programação e audiência.
O detalhe:
apenas 44%
dos domicilio brasileiros tem internet. E 98% tem televisão analógica.
Desafio: alcançar a meta de 93% da TV Digital gratuita e preparar este meio para a chegada da convergência de plataformas, esperando que no futuro todos os brasileiros tenham
banda larga em casa.
Devemos preparar a TV Digital aberta
brasileira
para oferecer serviços de over the top (OTT) com streaming de dados, transmitido pelo sinal de radiodifusão, gratuitamente.
Empresas
como Net Flix, Google TV, Apple, Hulu, bastante popularizados nos Estados
Unidos, vêm utilizando a TV
para oferecer seus conteúdos diretamente aos telespectadores, sem
usar a internet.
Um novo tempo para uma nova televisão, convergente, colaborativa, participativa, com o uso pleno da Interatividade. Isso o que que
queremos, por isso lutamos.
* André
Barbosa Filho é Superintendente
Executivo de Relacionamento da EBC, Coordenador Geral do projeto Brasil 4D e PHD em Ciências
da Comunicação pela ECA-USP.
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