segunda-feira, 30 de junho de 2014

Estrategia muda: New York Times desativa blogs

New York Times desativa blogs e muda estrategia editorial


New York Times está desativando a maioria dos seus quase 40 blogs publicados regularmente, numa atitude que está sendo considerada uma importante e polêmica reviravolta na estratégia editorial do jornal.
Times não explicou claramente os motivos do fechamento de blogs – como o The Lede (sobre noticiário político) e Green (sobre ecologia) – e nem adiantou se, no médio prazo, todos serão extintos ou não. Só garantiu que a maioria será desativada, dando sequência a um processo iniciado em 2012.
A decisão do jornal reabre a velha discussão entre adeptos e críticos da prática do jornalismo no formato blog. Quando este tipo de plataforma surgiu na Web, entre 1997 e 1999, ele foi logo adotado pelos jovens e recebido com desconfiança pelos jornalistas. Depois da virada do século, vários profissionais começaram a publicar blogs pessoais surgindo questionamentos sobre a compatibilidade deste tipo de iniciativa com a prática do jornalismo. 
Não houve um consenso, mas a partir de 2010 quase todos os grandes jornais mundiais aderiram à onda dos blogs numa tentativa de atrair leitores mais jovens, pouco acostumados ao formato rígido do noticiário impresso. O Globo foi o jornal brasileiro que mais blogs criou (quase 50) enquanto o New York Times chegou a ter 48.
Apesar do hermetismo do Times sobre as razões para o abandono dos blogs como uma estratégia editorial, os comentários que circulam nos meios jornalísticos norte-americanos apontam a verdadeira causa como sendo conflitos de personalidades e de propostas editoriais.
Vários autores de blogs no NYT passaram a ter um protagonismo pessoal na medida em que se relacionam diretamente com os leitores. Isso teria gerado ciúmes e também o temor de perda de controle editorial, algo que os executivos de jornais impressos prezam acima de tudo.
Mas o que parece ser a razão principal é o aprofundamento do conflito entre duas culturas jornalísticas na redação do Times. De um lado estão os adeptos da formatação convencional numa publicação impressa diária, privilegiando a abordagem definida como impessoal, objetiva e imparcial. Do outro, os que defendem a narrativa jornalística estilo blog, mais informal, personalizada e mais propensa à opinião do que à imparcialidade e objetividade.
Se o problema editorial foi realmente o mais decisivo na mudança de orientação do Times, a questão deixa de ser exclusiva de uma publicação para afetar a todo segmento de jornais impressos que publicam blogs. A reavaliação do papel dos blogs dentro de uma estratégia editorial poderia sinalizar uma separação mais nítida entre a ideia do jornalismo de um para muitos (a modalidade convencional) e o jornalismo do tipo muitos para muitos (a modalidade interativa, da qual os blogs fazem parte).
Por envolver aspetos culturais, o problema dos blogs num jornal não pode ser visto apenas pelo lado administrativo (custo/beneficio) e nem só pelo ângulo tecnológico (qual o melhor software). Há valores profissionais em jogo e principalmente percepções sobre como o jornalismo deve ser praticado na era digital. 

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