domingo, 10 de março de 2013

Quem morre primeiro? A TV aberta, a TV a cabo ou a duas?

O pesquisador, professor, produtor e consultor em Mídias Digitais , Seth Shapiro, assina artigo na publicação quadrimestral "Cadernos de Televisão" sob a responsabilidade do Instituto de Estudos de Televisão que por sua oportunidade e clareza considero importante reproduzir em parte.

Irônico e sarcástico, Shapiro que é professor da USC Scholl of Cinematic Arts,  contesta a atual e hegemonica crença de que o alto preço da TV a cabo, a disponibilidade do video on line  e ascenção dos Millennials - jovens especializados no mercado tecnológico atual - serão o tsunami da TV por assinatura em todo o mundo.

O professor afirma que a queda de cinco milhões de assinaturas num universo de 110 milhões de residencias com TV paga é significativa pois está diretamente relacionada com o poder aquisitivo do estadunidense de baixa renda diante da crise econômica atual. Medindo o peso do outro prato da balança, o número de pessoas que voltaram a conectar a TV aberta, free-to-air, subiu de 9% para 13 % dos lares.

(Google Images)

Reforçando a tentativa de entender as iniciativas, tendências e caminhos, na Alemanha, especialmente na região de Berlin-Brandenburgo 52 emissoras de TV solicitaram ao regulador regional autorização para deixar de transmitir sinais abertos até 2014 e passar a conectar-se a Internet para oferecer ao público , programas, videos e séries por demanda através do sistema OTT (Over the Top Television) igual ao oferecido, por exemplo, pela Apple TV, NetFlix ou Neo da Net. Porque?

Neste caso, mencionei falei em publicação anterior, estas empresas de radiodifusão alemãs, não acreditam no sistema de TV Digital terrestre europeu DVB-T2 que substitui o atual DVB-T, por serem incompatíveis.  Público e radiodifusores teriam que realizar novos e pesados investimentos, alegam e seria melhor migrarem direto para algo mais definitivo. A Agência Reguladora alemã, entretanto pediu bom senso a estes empresários pedindo que observassem com mais calma esta migração.

Então, professor Shapiro, quem tem razão? O senhor que defende que o cord-cutting que significa o corte do cabo ou a substituição destes serviços pagos de TV por tecnologias que utilizem conexão IP (Internet Protocols)  não é significativo ou aqueles que professam o discurso do império das telecomunicações, ou seja, hegemonia total ao transporte de conteúdos via "tecnologias bi-direcionais ponto a ponto" ( como o telefone fixo  e/ou celulares com banda larga,  a internet, etc... que ligam um ponto a outro, um individuo a outro com possibilidade de interação entre eles ) e com isto serviços por demanda como citei acima?

E explica:. Segundo a Nielsen, 60% do público utiliza simultaneamente nos EUA,  a TV, neste caso a TV por assinatura , com os dispositivos conectados a Internet como tablets e smartphones. E estes estadunidenses estão, na verdade, comentando nas redes sociais o que estão vendo nas programacões de suas TVs.

E completa: Fica claro a devoção do público as produções complexas, dispendiosas e extremamente bem realizadas que são apresentadas na telas das TVs, pelo ar, a cabo ou por satélite, provenientes da indústria do audiovisual. Seria possível que estas produções estreassem em portais na Rede Mundial? Sim, claro. Pode fazer parte, por enquanto, de uma estratégia de transmidia, cuja cadeia pudesse começar ou estar simultaneamente em diversas plataformas. Mas não é o usual para grandes produções.

É primeiramente no cinema, nos serviços OTT, na Rede Web, na TV por assinatura, nos produtos derivados como Dvds e Blue-Rays,  e por fim na TV Aberta,  que normalmente se constrói a cadeia econômica de distribuição audiovisual. É claro que esta ordem das coisas depende das características do produto, etc. Não é, como poderiam apreender algum, uma receita de bolo. Mas é, vamos combinar, o ecossistema predominante.

Assim se entendermos que grandes públicos são alcançados simultaneamente pelas plataformas mais do que outras, a TV leva vantagem por transmitir eventos ao vivo, esporte, noticias e por facilitar a exibição de produções para enormes contingentes populacionais que não chegaram ainda ao acesso a Internet (são 4.6 bilhões de pessoas em todo o mundo)

E esta é outra consideração importante. Dos aproximadamente 240 milhões de telefones celulares de posse dos brasileiros atualmente, apenas 17% estão conectados a Internet. Noticias dão conta igualmente que arrefeceu o crescimento que vinha sendo exponencial da adoção da população brasileira a TV por assinatura, o que indica  que o número de 16 milhões de domicílios com o serviço pode estar chegando ao teto de crescimento, não muito distante dos 13 milhões de adesões previstas pelo setor quando do inicio das operações massivas em 1995.

O que eu penso.A TV aberta ou por assinatura vão conviver por algum tempo (talvez duas décadas?) com os serviços IP, inexoravelmente crescentes e eficientes. A tendência de transmidia deveria fundir-se com isto otimizar o acesso aos serviços de comunicação e aos produtos audiovisuais.

Mas quem será a plataforma killer? Haverá alguma?

As hegemonias na humanidade são efêmeras, como diria o economista austríaco Joseph Schumpeter, autor da celebre "teoria da desagregação econômica" que propõe a tese que que a economia é sempre varrida por ondas tecnológicas que destroem literalmente  os modelos de sucessos estabelecidos, criando outros com suas consequências previsíveis, como em todos os tsunamis naturais. E nunca estamos realmente preparados para os tsunamis e para as mudanças, as quais muitos de nós tememos. Mas o efêmero e um fato, vero e benne trovato. 

Aliás, efêmero, como tudo nesta vida e como serão algum dia as tecnologias por IP.  

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