quarta-feira, 24 de julho de 2013

Novo livro de Manuel Castells sai em setembro e aborda a autocomunicacao. Saiba o que é

Autocomunicação. A nova temática de Manuel Castells.

Tomando a comunicação socializada como parte fundamental do processo de construção do significado, Manuel Castells, o sociólogo catalão diz que, com o uso da internet e das redes sem fio como plataformas de comunicação digital, houve uma mudança fundamental no campo da comunicação, a que deu o nome de autocomunicação.

“É autocomunicação porque a produção da mensagem é decidida de modo autônomo pelo remetente, a designação do receptor é auto-direcionada e a recuperação de mensagens das redes de comunicação é auto selecionada. (...) A autocomunicação de massa fornece a plataforma tecnológica para a construção da autonomia do ator social, seja ele individual ou coletivo, em relação às instituições da sociedade.


É por isso que os governos têm medo da internet, e é por isso que as grandes empresas têm com ela uma relação de amor e ódio, e tentam obter lucros com ela, ao mesmo tempo que limitam seu potencial de liberdade (por exemplo, controlando o compartilhamento de arquivo ou as redes com fonte aberta).”

Em uma sociedade em rede, na qual o poder é multidimensional, as redes de comunicação são fontes decisivas de construção do poder. As diversas redes de poder (financeira, multimídia, política, produção cultural, militar/segurança, criminosa etc.) que configuram o cenário da sociedade em rede se interconectam, apesar de preservarem sua esfera de ação, através da alternância de poder – mecanismo que Castells define como fundamental para construção do poder na sociedade em rede.

Diante de tal quadro, quem detém o poder na sociedade em rede?, pergunta o sociólogo. Ele responde dizendo que são os programadores com a capacidade de elaborar cada uma das principais redes de que dependem a vida das pessoas (governo, parlamento, estabelecimento militar e de segurança, finanças, mídia, instituições de ciência e tecnologia etc.) e comutadores que operam as conexões entre diferentes redes (barões da mídia introduzidos na classe política, elites financeiras que bancam elites políticas, elites políticas que se socorrem de instituições financeiras, empresas de mídia interligadas a empresas financeiras, instituições acadêmicas financiadas por grandes empresas etc.).

O contrapoder, por sua vez, é exercido quando os atores da mudança social são capazes de exercer influência decisiva usando mecanismos de construção do poder que correspondem às formas e aos processos do poder na sociedade em rede. “Envolvendo-se na produção de mensagens nos meios de comunicação de massa e desenvolvendo redes autônomas de comunicação horizontal, os cidadãos da era da informação tornam-se capazes de inventar novos programas para suas vidas com as matérias-primas de seu sofrimento, suas lágrimas, seus sonhos e esperanças.



 Elaboram seus projetos compartilhando sua experiência. Subvertem a prática da comunicação tal como usualmente se dá ocupando o veículo e criando a mensagem. Superam a impotência de seu desespero solitário colocando em rede seu desejo. Lutam contra os poderes constituídos identificando as redes que os constituem.”

Mas os movimentos sociais precisam ir além da internet para se relacionar com a sociedade em geral. Como o espaço público institucional – o espaço constitucionalmente designado para a deliberação – está ocupado pelos interesses das elites dominantes e suas redes, um novo espaço público é criado com a ocupação do espaço urbano e dos prédios simbólicos. “Em nossa sociedade, o espaço público dos movimentos sociais é construído como um espaço híbrido entre as redes sociais da internet e o espaço urbano ocupado: conectando o ciberespaço com o espaço urbano numa interação implacável e constituindo, tecnológica e culturalmente, comunidades instantâneas de prática transformadora.”

No livro, que será lançado em setembro pela editora Zahar, Castells se questiona também sobre qual será o possível legado dos movimentos sociais em rede ainda em processo. Ele acredita que seja uma nova forma de democracia, “uma antiga aspiração jamais concretizada da humanidade”. E esta tomaria corpo através do que parece ser o tema predominante dos protestos, o apelo a novas formas de deliberação, representação e tomadas de decisão políticas. 

“Esses movimentos sociais em rede são novos tipos de movimentos democráticos, movimentos que estão reconstruindo a esfera pública no espaço de autonomia constituído em torno da interação entre localidades e redes da internet, fazendo experiências com as tomadas de decisão com base em assembleias e reconstituindo a confiança como alicerce da interação humana.”



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