O Site "Tela Viva" publicou matéria esta semana que remete a todos a pensar em parâmetros de uso de espectro e de modelos de negócio em relação a sobrevivência do modêlo broadcasting em virtude da oferta de opções de transmissão de conteúdos audiovisuais por plataformas IP (internet protocol).
Lógico que o cenário desta discussão não é Angola, o Equador ou mesmo o Brasil. Trata--se da Alemanha, pais cuja pujante economia encontra-se em quarto lugar entre as maiores do mundo, com população de cerca de 55 milhões de habitantes e um índice de desenvolvimento humano invejável.
Ou seja, por lá, a banda larga de alta velocidade oferecida por concessionários e pelo estado alemão e quase integralmente Fiber to home (Fibra na porta de casa) garantindo eficiência e estabilidade aos serviços especialmente aos acessos a Internet.
O grupo alemão RTL, segundo o site especializado, responsável por transmissões radiodifundidas na região de Berlim , e igualmente concessionária das transmissões televisivas e radiofônicas para Brandemburgo declarou que irá interromper até o final de 2014 as transmissões por estas plataformas e dando como justificativa o alto custo das operações e, percebam, " a falta de perspectivas a longo prazo" .
Em resposta, o órgão regulador destes estados alemães (a Alemanha não tem um órgão regulador nacional sendo a fiscalização e politicas de outorgas realizadas regionalmente) solicitou a RFL que continuasse a transmitir os sinais de radiodifusão e, assim, desse continuidade ao programa de TV Digital, apesar de concordar com a decisão, acentuando apenas que seria adiantada.
Está claro que tanto o órgão regulador como a emissora alemã tem reservas quanto a migração do atual sistema DVB-T para o sistema DVB-T2, mais moderno, que permite o HDTV, (TV de Alta Definição), mas para o qual haveria necessidade de investimentos pesados tanto da parte de radiodifusores quanto dos telespectadores. Alegam que este processo, mesmo na Alemanha, levaria anos para se completar e que a este tempo futuro, os serviços de Internet já estariam suficientemente desenvolvidos para oferecer serviços mais completos e baratos.
Vamos lá. Primeiro o grande engano dos europeus em adotar um sistema em definição standard, excluindo a alta definição, que se verificou a e agora se consolida com um erro estratégico que só pode estar relacionado com o interesse de operadoras desde meados dos anos 90 pela modificação do sistema radiodifundido pelo o das telecomunicações. Gostaria que muitos por aqui refletissem neste aspecto.
Assim, o que é um sistema gratuito e sem problemas de limite de banda de transmissão e que, concordo, deveria merecer pelo menos no Brasil, (nossa lei para o setor é de 1962 com modificações regulamentares de 1967) novas regras de convívio seja sobre o ponto de vista de novos entrantes, do conteúdo nacional e do relacionamento com outras plataformas, seria substituído por serviços de telecomunicações pagos.
Este sempre foi o vetor do DVB, primeiro com a oferta da TV Aberta concomitantemente a da TV paga, através de operadores privados. Não se pensou em transmissão integradas com as plataformas móveis e portáteis e em interatividade (o que neste caso é um paradoxo, com a interatividade plena, a participação das telecomunicações estaria garantida através da necessidade do uso do canal de retorno, não é?). O DVB-T2 faria, em parte, estes serviços, mas com a dificuldade de produzir uma nova migração digital. Será que não haviam percebido este imbroglio?
Diogo isto porque este fato pesou e muito na decisão do grupo liderado pela então Ministra da Casa Civil Dilma Rousseff pela adoção do sistema japonês ISDB-T. Disseminamos tais conceitos na America do Sul, Central, na Africa (onde tivemos e ainda temos disputas acirradas com os europeus) com sucesso, muito em virtude de um situação nestas regiões muitas distintas do cenário alemão.
Mas , penso que é de fato uma mudança de modelos e de controle sob a produção e transmissão de informação está agora sendo efetivado. Desde os anos 90, como disse, a UIT ( União Internacional de Telecomunicações ) vem apoiando a mudança de espectro para introdução de ofertas de transmissão por telefonia móvel bandas do espectro historicamente utilizadas pelos sistemas de radiodifusão. Ninguém duvida disto.
Só para refletir. Quem vai pagar pela produção e transmissário de grandes eventos, de cunho jornalistico, artístico, etc, cuja infraestrutura necessária, cara e complexa, foi desenvolvida ao longo dos anos pelas emissoras de rádio e TV? Teríamos empresas com tais características voltadas exclusivamente para os segmentos IP? Como fariam esta empresas para se remunerar? Com publicidade e modelos de subscrições? Garantiriam estas transmissões a cobertura simultânea hoje propiciada pelo broadcasting para milhões, bilhões de pessoas ao mesmo tempo?
Alguém diria: Isto é um questão de processamento e de ofertas de infraestrutura. Sim, é verdade. Na Alemanha, eles estão próximos de resolver esta questão. Mas e para os 4,2 bilhões de pessoas em todo o mundo que não tem sequer serviços de Internet discada? Haveria dinheiro para a inclusão? Estamos consolidando o fosso entre os incluídos e excluídos?
Mas isto é conversa de idealistas e o mundo quer resultados, não é mesmo?
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