terça-feira, 15 de julho de 2014

CONVERSOR VAI USAR FORÇA DA TV PARA LEVAR BANDA LARGA À BAIXA RENDA.

ENTREVISTAS

CONVERSOR VAI USAR FORÇA DA TV PARA LEVAR BANDA LARGA À BAIXA RENDA,
AFIRMA BARBOSA

André Barbosa, superintendente de suporte da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), afirma que conversor que será distribuído para inscritos no Bolsa Família criará a possibilidade de levar a banda larga para pessoas carentes, usando a penetração da TV. Para ele, todos podem ganhar com isso. Basta estabelecer modelos de negócios compatíveis com a renda dessas famílias. " A gente vai avançando para que esse público enorme, que ainda não tem a possibilidade de receber fibra [óptica], uma internet fixa, usar o canal retorno por 3G ou 4G para ter acesso à web. Ao mesmo tempo, usar novo modelo de negócio – acho que isso é importantíssimo e foi a Oi a primeira a ver isso – como uma nova fonte de renda para as operadoras, assim como para a radiodifusão", assinala.

 
Lúcia Berbert LÚCIA BERBERT — 15 DE JULHO DE 2014

André Barbosa Filho, superintendente de Suporte da TV pública EBC

André Barbosa, superintendente de Suporte da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), afirma que conversor que será distribuído para inscritos no Bolsa Família criará a possibilidade de levar a banda larga para pessoas carentes, usando a penetração da TV. Para ele, todos podem ganhar com isso. Basta estabelecer modelos de negócios compatíveis com a renda dessas famílias. A “caixinha” não é só para TV, é uma “caixinha” integradora, midiacenter. E o Ministério das Comunicações e a Anatel encontraram uma boa solução ao indicar um conversor semelhante para ser distribuído com as famílias de baixa renda, de uma caixinha que possa permitir, no futuro, do Plano Nacional de Banda Larga [PNBL] com o plano de migração da TV digital. “E, com isso, a gente vai avançando para que esse público enorme, que ainda não tem a possibilidade de receber fibra [óptica], uma internet fixa, usar o canal retorno por 3G ou 4G para ter acesso à web. Ao mesmo tempo, usar novo modelo de negócio – acho que isso é importantíssimo e foi a Oi a primeira a ver isso – como uma nova fonte de renda para as operadoras, assim como para a radiodifusão”, assinala.



Tele.Síntese- O Ministério das Comunicações estabeleceu que o conversor de TV digital, que será distribuído para as pessoas inscritas no Bolsa Família, terá o Ginga e permitirá acesso a outros serviços via banda larga móvel, nos moldes do que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) vem testando. Isso é viável?

André Barbosa – A base de tudo isso está no desenvolvimento do Ginga completo, o Ginga full, porque o que foi proposto inicialmente, pela norma da ABNT não levou em conta a totalidade do middleware. A indústria fatiou e colocou o Ginga 1.0 por interesse dela. Como é uma plataforma que trabalha tanto por IP como por processo, se privilegiou a TV conectada, com o apoio do Fórum Brasileiro da TV Digital, que deveria trabalhar para trazer os benefícios da interatividade e da conectividade. Agora, depois de certo tempo, conseguimos comprovar a possibilidade de uso, privilegiando os serviços públicos, daquilo que se chama de Ginga C ou 3.0. Ele  tem alguns protocolos que permitem a interatividade, vídeos dinâmicos e uma série de leituras de mídias previstas para utilizarem a linguagem IP convergida com a DTS, que é a linguagem de televisão.

Isso no mundo nunca foi desenvolvido, não que os países como Itália, que chegou bastante longe, a França e até a Alemanha, não tivessem capacidade, não é isso que estou dizendo. O que eu digo é que esses países não tiveram interesse por causa de outros serviços que consideram prioritários, como a banda larga. Isso também está sendo discutido no mundo, porque o broadcasting está sendo visto de outra maneira hoje, não só como aquela televisão linear como acontece hoje, mas usado para outras formas de plataformas digitais que estão se construindo modelos no mundo, por broadcasting.

De qualquer maneira, para o panorama brasileiro faltava desenvolver um teste de conceito e a gente fez isto com o Brasil 4D. Depois de testar em 50 casas esse conversor em Samambaia, no DF, vamos agora para 350 casas na Ceilândia. E mais, a gente está fechando com a Codab [Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal] um acordo para licitar 30 mil unidades com “caixinhas” do Brasil 4D para serviços públicos.

Tele.Síntese- Qual é a configuração desse conversor ou “caixinha”?

Barbosa – O perfil técnico dessa “caixinha” prevê um hardware com duas portas USB, uma interna para colocar o modem 4G ou 3G, e uma externa para fazer conexão com IP, seja WiFi, seja com banda larga fixa, TV conectada ou qualquer outro instrumento IP e com cachê de memória suficiente para reduzir a latência, possibilidade de colocar memória flash de 512 K e cartão de memória de até 16 Giga, para caber mais aplicativos. Nós já estamos trabalhando na correção pelo ar dos dados e também de vídeos. Ou seja, você carrega os vídeos de madrugada e os vídeos anteriores vão para nuvem e terá um aplicativo para abrir essa nuvem. E os novos estarão embarcados no carrossel e disponíveis no memory card, com todos os aplicativos embarcados. Isso leva o conversor a ter similitude com smartphones, PCs e outros equipamentos de informática que tenham essas mesmas característica.

A “caixinha” não é só para TV, é uma “caixinha” integradora, midiacenter. E o Ministério das Comunicações e a Anatel encontraram uma boa solução ao indicar um conversor semelhante para ser distribuído com as famílias de baixa renda, de uma caixinha que possa permitir, no futuro, do Plano Nacional de Banda Larga [PNBL] com o plano de migração da TV digital. E, com isso, a gente vai avançando para que esse público enorme, que ainda não tem a possibilidade de receber fibra [óptica], uma internet fixa, usar o canal retorno por 3G ou 4G para ter acesso à web. Ao mesmo tempo, usar novo modelo de negócio – acho que isso é importantíssimo e foi a Oi a primeira a ver isso – como uma nova fonte de renda para as operadoras, assim como para a radiodifusão.

Isso coloca a TV aberta em um mundo digital com modelo de negócio convergente. Até agora no mundo não tinha sido feito isso, porque todo mundo optou por se fazer isso por meio de IP. Foi o Brasil, junto com esse grupo todo, EBC, Harris, D-Link, Totvs, MecTronica, Spinner, Ebcom, Intacto, Oi e Ei-TV!, universidades e tantos outros que participaram desse projeto, que iniciaram esse movimento.

Tele.Síntese- As especificações do conversor do MiniCom são iguais a da “caixinha” do projeto Brasil 4D?

Barbosa- Faltou uma coisinha, mas foi por esquecimento. Faltou a porta HDMI. Não existe conversor hoje sem essa entrada porque sem ela perde a alta definição da TV aberta, que só teria conexão por vídeo componente ou vídeo composto, que garante uma definição de apenas 420 linhas, uma resolução muito parecida com a da TV analógica. Com o HDMI a TV aberta terá qualidade superior do que a TV a cabo.

Mas o Ministério das Comunicações e a Anatel já afirmaram que quem vai definir as especificações do conversor será o grupo do grupo técnico responsável pela migração e que a porta HDMI será incorporada.

Tele.Síntese- A “caixinha” do projeto Brasil 4D foi especificada pela EBC?

Barbosa – Foi, a pedido nosso. Na verdade, ela nasceu lá atrás de uma proposta do Banco do Brasil, que desenvolveu com a Totvs e com outras empresas uma especificação para criar extratos e saldos bancários pela televisão, que inclusive vamos usar a partir deste mês no Brasil 4D. E o banco negociou com a chinesa D-Link a possibilidade de fazer 10 mil caixinhas. Mas o BB recuou por falta de regulação e ficaram com essas unidades sem uso. Então, eu negociei com eles para fazer os testes de interatividade. Para isso, melhoramos os equipamentos, botamos aplicativos. Ou seja, fizemos todo um trabalho de firmware e de estabelecimento de regras e padrões para fazer os testes em João Pessoa.

Tele.Síntese- Os testes também previam a distribuição de antenas externas junto com as “caixinhas”?

Barbosa – Sim e isso é importante. Antena interna não funciona nesse momento. Não é que antena interna não funcione para TV digital, mas é um risco muito grande por causa dos filtros para evitar interferências. No caso dos receptores do MiniCom, elas devem sair já com os filtros, conforme o ministro Paulo Bernardo adiantou, para evitar interferências dentro de casa. Mas não adianta querer botar antena interna, tem que ser antena externa, para evitar o risco severo de interferências entre os serviços. Se a gente fizer em escala, vai ficar muito barato. Hoje, uma antena externa estaria custando por volta de R$ 80 a R$ 90, mas teríamos condições de fazer isso com o custo mais baixo para atender 1 milhão de “caixinhas”. A perspectiva, e isso ainda não tem confirmação, a potencialidade de conversores é de chegar a 17 milhões, de acordo com as inscrições atuais no Programa do Bolsa Família. Mas na cotação inicial para a fabricação de 1 milhão de “caixinhas” com antena externa ficaria entre R$ 60 e R$ 120 o kit.

Paralelamente, a Anatel ficou de conversar sobre conexão com as operadoras, seja por meio de uma política de contrapartida ou de política pública, para que o chip de dados, que já existe no mercado, possa ter um preço acessível pago pelo próprio consumidor. Ele usa um pacote de dados que ele não paga, mas se ultrapassasse a franquia, teria condições de arcar com o valor reduzido. Isso é uma coisa que precisa ser estudada, para garantir que esse mídia center possa ser mais um canal de inclusão digital, que congrega a banda larga e a TV digital. Como a gente sempre previu, esses meios são suplementares e não excludentes, podem conviver perfeitamente e podem ser motivos de interesses econômicos das corporações.

Outras coisas virão, como o incentivo de desenvolvimento de projetos convergentes e desenvolvimento de ideias para a TV digital, com recursos públicos, na área de antenas inteligentes, diminuição de latência e outras questões fundamentais, como a interatividade síncrona, ou seja, dentro do programa.

Tele.Síntese- Quem vai produzir esses conversores em um tempo curto?

Barbosa– Para produção do hardware, tem várias empresas interessadas. Recentemente, a Anatel reuniu uma sete empresas, nacionais e estrangeiras, para conversar. Mas existem muito mais empresas que podem fazer isso. A questão é saber sobre a implantação do protocolo 3.0 do Ginga e saber se essa implantação será pública, aberta. O pedido da EBC é que seja feito assim. A implementação pública de referência para o uso da interatividade e canal de retorno, como a PUC fez com a versão 1.0, para não ficar na mão de desenvolvimento proprietário. A TV digital sempre foi software livre, código aberto e não pode ser diferente agora quando estamos falando de baixa renda na TV digital.

Tele.Síntese- Esse processo pode levar a um ganho significativo ao PNBL?

Barbosa – Acho que sim. A televisão está em 98% dos lares e poderemos chegar, como pretende o MiniCom, a 93% em 2019 e isso significa que essas pessoas passam a ter a possibilidade de receber as informações digitais, transmitidas por broadcasting ou por IP, não importa. Vamos criar um atalho para a oferta de banda larga. E as operadoras não vão deixar de ganhar dinheiro. Ao contrário, com o modelo novo de canal de retorno, pode se ampliar para outras ofertas de pacotes. Precisamos da cooperação da iniciativa privada para isso.

Tele.Síntese- E os testes da EBC, como andam?

Barbosa- Na verdade, nós temos novidades que serão implantadas agora, como um game de trabalho, desenvolvida pela Feevale, única universidade que tem mestrado em games no Brasil. Mas para isso temos que modificar o firmware, avaliar a capacidade de memória, enfim, tudo isso estamos aprendendo. Também serão implantados extratos e saldos bancários. Para avançar para outros serviços bancários, como a movimentação de contas, precisamos fazer um padrão de autenticação bancária. Isso nós estamos negociando com a Febraban, com as empresas, o governo, para reduzir riscos no canal de retorno.

Tele.Síntese- Então todos os serviços em teste poderão migrar para essa “caixinha” da Anatel?

Barbosa – Ela pode ser mais do que ela é, desde que seja escalável. Mas, na verdade, ela inicia com uma configuração básica, que permite ter uma conexão com a banda larga 4G ou 3G e a serviços públicos. Mas a conexão pode ser gratuita ou paga. São várias possibilidades que a Entidade Administradora da migração vai decidir. Uma das questões fundamentais é testar a interatividade no VHF alto até 2016, quando começa efetivamente o desligamento do sinal analógico, para saber se funciona igual ao UHF. Acreditamos e todos os engenheiros têm sido unânimes de que não haverá problemas. Mas temos que fazer os testes. Outro ponto significativo é trabalhar na multiprogramação. Há poucos conversores no mercado com essa possibilidade e há televisores que também não pegam, porque atualmente é opcional. Muitos radiodifusores não querem, mas para os canais públicos é vital. Sem apelo público, isso dificilmente ocorrerá.

Tele.Síntese- A Anatel acenou com a possibilidade de destinar nova faixa para a evolução da TV digital. Essa é uma reivindicação também das TVs públicas?

Barbosa – É sim. A Anatel já estudando seriamente isso, os radiodifusores ficaram contentes com isso. Assim com o percentual mínimo de 93% de cobertura da TV digital para o desligamento. As coisas estão começando a clarear. Essa “caixinha” é a demonstração física de que a radiodifusão e a banda larga podem caminhar paralelamente, mas de forma convergente.

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