quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Presidente do BID cre em inovacao como remedio para o crescimento da AL

Os gastos da América Latina em inovação, pesquisa e desenvolvimento (P&D) cresceram nos últimos anos, mas ainda continuam longe dos valores empregados pelas regiões mais ricas do mundo. O investimento latino-americano em P&D chegou a 0,78% do PIB em 2011, o mais recente ano em que foram compilados dados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A taxa é superior ao 0,48% e ao 0,57% registrados em 1990 e em 2000, respectivamente, segundo a base de dados da organização. Mas continua distante dos 2,8% do PIB investidos pelos Estados Unidos e dos níveis dos líderes mundiais, como a Coreia do Sul (3,7% do PIB), a Finlândia (3,9%) e Israel (4,3%).
“Há um enorme déficit de inovação na América Latina”, admite o presidente do BID, Luis Alberto Moreno, em uma entrevista motivada pelas jornadas sobre inovação realizadas na terça-feira na sede do banco em Washington, e que buscam justamente reverter esse quadro. Após uma seleção prévia, 16 jovens empreendedores latino-americanos apresentaram seus projetos de inovação diante de um grupo de investidores privados e representantes do BID e de outros organismos. O objetivo é tornar os projetos conhecidos e estabelecer sinergias que possam levar a apoios econômicos.

Mas ao mesmo tempo, o presidente do BID gosta de exaltar os avanços conquistados. “É verdade que temos esses déficits, mas também é verdade que quando vejo os jovens que selecionamos, uma das coisas que nos falta é justamente comemorar os êxitos dos inovadores da mesma maneira que eles são comemorados em outras partes do mundo”, afirma Moreno, que antes de entrar no BID foi embaixador da Colômbia nos Estados Unidos. E recorre a uma analogia futebolística: “Nós, na América Latina, celebramos os grandes jogadores de futebol. Não há nada de mau nisso. Mesmo nós, colombianos, nos sentimos muito contentes por ter um James Rodríguez no Real Madrid. Mas me pergunto onde está o James Rodríguez da biotecnologia”.O contexto atual convida a isso. O colombiano Moreno – que ocupa o cargo no BID desde 2005 – acredita que a inovação pode ajudar a amenizar a desaceleração econômica que cerca a América Latina. “Não há dúvidas de que os ventos mudaram. Tivemos ventos a favor com um consumo muito expressivo da China, bons preços e taxas de juros baixas. Tudo isso está mudando, o que significa que temos que fazer maiores esforços internos, temos que remar mais por conta própria. E a inovação é uma das maneiras de remar melhor”, afirma.


Moreno acredita que na América Latina a inovação pode servir para diminuir desigualdades sociais e ocupar os vazios que podem ser gerados pela falta de serviços públicos. O objetivo é obter “aplicações que pode ser apropriadas para nossos problemas”. Como exemplo, ele cita as várias diferenças entre as necessidades das classes médias latino-americanas e da norte-americana, esta composta por “famílias que têm dois carros e uma piscina em casa”.Como exemplo do progresso nos últimos anos, Moreno menciona o impacto da aplicação de técnicas de P&D na produção agrícola do Brasil e da Argentina. São os dois países que lideram os investimentos em inovação na região. Os gastos em P&D do Brasil representaram 1,21% do PIB em 2011, seguido de longe por Argentina (0,65%), Costa Rica (0,48%), México (0,46%), Chile (0,45%) e Uruguai (0,43%), segundo os últimos dados disponíveis compilados pelo BID.

Alguns dos projetos selecionados nas jornadas avançam nessa direção. Um jovem brasileiro, por exemplo, criou uma empresa que utiliza tecnologias móveis para oferecer assistência médica a comunidades com pouco acesso ao serviço público. A plataforma identifica, por meio de uma série de exames, o risco de uma pessoa vir a sofrer de doenças graves. Um colombiano desenvolveu um sistema de tratamento de águas que gera uma economia de 70%. Outro jovem, um chileno, idealizou um sistema de avaliação oftalmológica que reduz custos e tempo de espera. “Nosso espaço vital é construir soluções de tecnologia para nossas próprias necessidades”, afirma Moreno.
O presidente do BID insiste que a inovação é um “ecossistema” com três pilares: educação, financiamento e acesso a redes de empreendedores. “Enquanto todo esse ecossistema funcionar, os empreendedores terão mais capacidade de se sobressair”, diz. Ele destaca ainda que o apoio público é um fator importante, mas lembra que também há valores intangíveis: “Entender que o fracasso é um dos instrumentos através do qual se aprende para inovar melhor. Isso é algo que falta em nossa cultura”.

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